Difilobotríase

Mais conhecida como “Doença do peixe cru” ou “Tênia do peixe”, a Difilobotríase é uma parasitose intestinal causada pelo parasito da espécie Diphyllobothrium latum, essa espécie tem como hospedeiro definitivo o homem, porém pode ser encontrada em outros animais que façam o consumo de peixes também. Ásia, América do Norte e alguns países do leste europeu são os que mais sofrem com essa parasitose, pois há um elevado consumo de peixes de água doce caracterizando um grande problema de saúde pública. A contaminação por esse parasito ocorre através da ingestão de peixes crus, malcozidos e defumados que estão contaminados.
Logo após a ingestão do peixe infectado, o parasito se aloja no intestino delgado do hospedeiro onde ele irá se desenvolver até ser eliminado junto as fezes do hospedeiro. Normalmente a Difilobotríase é assintomática, porém, em casos mais graves pode-se observar náuseas, diarreia, falta de apetite, vertigem, dor abdominal e deficiência de absorção da vitamina b12 o que pode levar o indivíduo a contrair uma anemia megaloblástica.
Figura 1- (A) Verme adulto de Diphyllobothrium latum, (B) proglotes que medem aproximadamente 2mm de comprimento e (C) a presença de proglotes grávidos. Fonte: EMMEL, 2006..
O período de incubação pode durar de 4 a 6 semanas, desde a ingestão dos ovos a eliminação do agente nas fezes. O diagnóstico é feito através de exames laboratoriais, pois a maioria dos infectados não apresentam sintomas clínicos.  São feitas analises parasitológicas das fezes do paciente onde serão procurados ovos do parasito utilizando o microscópio e também a análise de fragmentos do parasito que permitem o diagnóstico. É aconselhável que quem tenha o costume de consumir comida japonesa ou outros tipos de peixes crus, faça o exame aproximadamente de 4 a 6 semana após o consumo, pois assim será possível identificar ou não a presença do parasito.  O tratamento tanto em adultos como em crianças é feito com o Praziquantel que é um antiparasitário de amplo espectro que interfere no fluxo de íons de cálcio o que dificulta a contração e o relaxamento muscular do parasito o que impede ele de se fixar no intestino.
Figura 2 - Ciclo de vida do Diphyllobolhrium
No ciclo de vida do parasito Diphyllobolhrium o ovo será liberado nas fezes. Este vai amadurecer em um embrião ciliado (coracidio). O coracidio é liberado na água e ingerido por pequenos crustáceos (1° hospedeiro intermediário). Nos crustáceos ele se diferencia em procercoides (forma contaminante do peixe). O peixe (2° hospedeiro intermediário) ingere o crustáceo contaminado com procercoide. Estas migram para o músculo do peixe e se diferenciam em plerocercoide (forma infectante ao hospedeiro definitivo). A infecção em humanos e outros mamíferos (hospedeiro definitivo) ocorrem pela ingestão de peixes contaminados com larva (plerocercoide). Estas larvas vão se instalar no intestino do hospedeiro definitivo e se diferencia em um verme adulto. Vai ocorrer reprodução e assim liberação dos ovos pelas fezes. Assim o ciclo reinicia.
O ovo possui tamanho médio e forma elíptica, possui a casca lisa com cor amarelada e em uma das extremidades se encontra o tubérculo e na outra um opérculo. Já as dimensões do verme adulto variam entre 3 a 10m metros de cumprimento (podendo chegar a 15 metros). No escólex encontram se fendas longitudinais e profundas, as pseudobotrídias.
Figura 3 - Ovos de D. latum:   em amostra 
fecal. Fonte: www.cdc.gov/dpdx/
Para uma boa profilaxia deve se consumir o peixe após o congelamento na temperatura de -20° C por sete dias ou de -35°C por 15 horas, assim inviabiliza o parasito e se torna possível a ingestão do pescado cru. Faz-se necessário também a prevenção da infecção pelo cozimento adequado dos peixes, destino adequado aos excretos humanos e a inspeção do pescado.  
A prevalência de casos dessa parasitose é elevada nos Países Bálticos, de onde o parasitismo estendeu-se a numerosas outras regiões com a mesma paisagem epidemiológica (rios e lagos de água doce, clima frio ou temperado), graças à migração de pacientes portadores do cestóide. Nos lagos andinos da Argentina e do Chile, foi o povoamento artificial com peixes salmonídeos procedentes do hemisfério norte que contribuiu para a implantação de novos focos. Porém, os países asiáticos são os mais afetados pela parasitose.
Outro fator importante para a ocorrência de casos é o hábito de comer peixe cru ou insuficientemente cozido. Hábito muito comum em povos Orientais, além disso, com a atual globalização, o transporte de peixe para consumo em regiões distantes permite que surjam casos em áreas não endêmicas.
Diante disto, pode-se dizer que a difilobotríase não é uma doença endêmica do Brasil, e por isso é indispensável que algumas medidas preventivas sejam tomadas a fim de impedir que a doença se torne endêmica em várias regiões do Brasil. As principais medidas a serem tomada são: a educação sanitária e ambiental da população, orientar as pessoas sobre o risco de não consumirem peixe bem cozidos ou assados, se o consumo do peixe cru for indispensável, recomenda-se o seu congelamento prévio a -18ºC, por 24 horas. O congelamento a -20ºC, por sete dias, inativa não só o Diphyllobothrium, mas os outros parasitas causadores de zoonoses que o homem pode adquirir ingerindo peixes crus.
É preciso obter também tomar algumas medidas de controle, tais como a conscientização dos donos de restaurantes japoneses e dos fornecedores de pescados, através de medidas preventivas aplicadas pelos órgãos de fiscalização sanitária.
Figura 4 -  Cuidados que a população deve ter antes de ingerir peixe cru. Fonte: www.otempo.com.br.
O tratamento das pessoas infectadas, com o medicamento e dose adequados, também contribui para o controle da zoonose, já que o mesmo cessará a eliminação de ovos do parasita pelo paciente. A participação de órgãos do governo. Cabe à Vigilância Epidemiológica, monitorar o aparecimento de casos e intervir, interrompendo a cadeia de transmissão da doença e evitando que novas doenças tornem-se endêmicas. E por ultimo e não menos importante é conhecer mais sobre os hospedeiros intermediários do parasita como medida para impedir a disseminação de mais um patógeno, o que iria contaminar as coleções hídricas e os peixes do Brasil, afetando, consequentemente, a saúde da população local.

Referências:
EMMEL, V. E.; INAMINE, E.; SECCHI,C,; BRODT,T. C.Z.; AMARO, M. C. O.; CANTARELLI, V. V. e SPALDING, S. Diphyllobothrium latum : relato de caso no Brasil; Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 39(1):82-84, jan-fev, 2006.

DOS SANTOS, S. Difilobotríase causada pelo Diphylobothrium atum; Curitiba 2005. Disponível em: <http://tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2013/08/DIFILOBOTRIA SE.pdf>. Acesso em: 14 de junho de 2017

EDUARDO, M.B.P. et al. Diphyllobothrium spp.: um parasita emergente em São Paulo, associado ao consumo de peixe cru – sushis e sashimis, São Paulo, março de 2005. Boletim Epidemiológico Paulista, São Paulo, v. 2, n. 15, p. 1-5, mar. 2005.

FORTES, E. Parasitologia Veterinária. 3 ed. São Paulo: Ícone, 1997. Bibliografia
comentada: p. 171-173. ISBN 85-274-0443-5.
  
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Saúde. Alerta e recomendações referentes a casos de Difilobotríase no município de São Paulo. São Paulo: Centro de Vigilância Epidemiológica, 2005.

ACHA, P.N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animais. 2. ed. Genebra: Organización Panamericana de la Salud, 1986. Bibliografia comentada: p. 721-726. ISBN 92-75-31503-5.

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